5 - AS FOTOS DO SANTOS

VIVER NÃO CUSTA…
Um dia aparece o Santos com uma série de fotografias. Chega junto do Furriel Carvalho e, como quem não quer a coisa, pergunta-lhe, mostrando as fotos:
- Furriel, veja lá qual destas fotos lhe parece melhor.
O Furriel agarrou nas fotos e começou a vê-las uma a uma. Hesitou entre duas e acabou por se decidir por uma delas.
- É esta a que está melhor, para mim.
O Santos pegou na foto e torceu o nariz.
- Acho que estou muito sorridente.
- E então? Assim é que está bem.
- Não, estou muito alegre! Que acha desta? – E o Santos mostrou-lhe uma foto em que estava com um ar triste quase como quem vai chorar a seguir.
- Bolas, quase parece que está a chorar.
- É esta mesmo! – Exclamou o Santos.
Perante o espanto do Furriel o Santos explicou-se:
- Esta foto é para mandar para a Coluna em Marcha do Notícias a pedir madrinhas de guerra.
- E você está à espera que alguém tenha pena de si e lhe escreva para ser sua madrinha!
- Nem mais. – Rematou o Santos.
A Coluna em Marcha era um suplemento do jornal Notícias às Quartas-feiras dedicado exclusivamente aos militares que se encontravam em Moçambique. Este suplemento, que era dirigido pelo jornalista Guilherme Melo, tratava todos os temas. Poesia, prosa, reportagem, contos, enfim, tudo tinha ali lugar. Publicava também fotos com pedidos de madrinhas de guerra. E era este o objectivo do Santos, uma foto para a Coluna em Marcha a pedir madrinhas de guerra.
Passado algum tempo lá veio a foto do Santos na Coluna em Marcha com a carta em que dizia sentir-se muito só e triste, longe da família, e, finalmente, a pedir a dita madrinha de guerra. No pedido não se usava o plural este acontecia em função das respostas.
Passado mais algum tempo o Santos recebe uma carta de uma senhora de Lourenço Marques que se sentiu tocada pela foto e carta do Santos. A senhora dizia, a certo ponto, que pensou nele como se fosse o filho dela, pois tinha um filho mais ou menos da idade do Santos, e achou que lhe devia escrever para lhe dar o conforto que ele precisava como gostaria que alguém desse ao seu filho se estivesse na situação do Santos.
Carta para cá, carta para lá, ao fim de algum tempo a senhora, depois de falar com o marido que era gerente de um dos melhores hotéis de Lourenço Marques, o Bolama, convida o Santos a passar quinze dias naquele hotel com tudo pago, inclusive as viagens de avião.
E o Santos lá foi passar os melhores quinze dias da sua vida, até àquela altura, pelo menos.
Regressou com muitas prendas entre as quais, a melhor, era um equipamento completo do Sporting. Com bola e tudo!
- Isso é que foi ter sorte, oh Santos!
- Está a ver, Furriel, ainda você queria que eu mandasse uma das outras fotos!
Não havia dúvida, o Santos é que sabia, … e mais nada!

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