PORQUÊ MILTON SÁ

Muitos dos que viram este blog e viram a foto do seu autor interrogaram-se sobre o nome usado para a autoria do mesmo.
Este nome não nasceu por acaso, é até, por sinal, uma história curiosa que vou aqui e agora contar.
A determinado ponto da comissão, princípios ou meados de 1972, o Rafael e mais um ou dois colegas lembraram-se de enviar para a Crónica Feminina, uma revista de fofoquices (tipo Maria) muito lida na época, uma mensagem com pedido de madrinhas de guerra. Na direcção correcta (SPM 6824) indicaram um nome fictício – Luís Manuel M. de Sá. Não sei se o M. foi assim enviado ou foi a revista, para economizar espaço, que abreviou o nome.
Fosse como fosse a verdade é que passado algum tempo começaram a chover cartas e aerogramas dirigidos ao tal Luís Manuel M. de Sá. As primeiras cartas foram, naturalmente, lidas em exclusivo pelos autores e pagantes do anúncio que fizeram a sua selecção em função do conteúdo e as restantes foram pondo de lado.
Mas, o que começou como um pequeno fio de água cedo se transformou num verdadeiro rio. Todos os dias chegavam novas cartas e em quantidades apreciáveis. Face a esta avalanche o Rafael o Monge & Cª. que já não davam vazão a tanta carta, resolveram colocar à disposição dos interessados todas as que sobravam da sua selecção, e eram muitas. Responderam a este anúncio mais de 300 moças de todas as idades e escalões sociais e culturais e de todos os pontos do país desde localidades remotas até às principais cidades.
Alguns por mera curiosidade, outros para ocupar o tempo, não faltaram voluntários para ler as cartas recebidas e até para responder a muitas delas.
Havia no entanto o problema de separar as cartas e manter a identidade própria de cada um para evitar confusões. Foi aqui que entrou em jogo o providencial “M.”. Deste modo o referido M transformou-se em Monteiro para um, em Moreira para outro e em Milton para mim.
O Rafael nas respostas que deu disse ter havido um engano na publicação e que era afinal Luís Miguel M. (?) de Sá. O Monge resolveu o problema desfazendo desde logo o equívoco e alegou ter enviado aquele nome para manter o anonimato mas o seu verdadeiro nome era A. D. Monge. Os outros três passaram a ser Luís Manuel Moreira de Sá, Luís Manuel Monteiro de Sá e eu, Luís Manuel Milton de Sá.
E assim todos nós (5) mantivemos durante bastante tempo muita correspondência com várias moças. Por razões naturais, com o tempo, o número de correspondentes foi diminuindo e acabou por se resumir a uma ou duas correspondentes com as quais se tinham criado laços de maior amizade.
Desta correspondência nasceram mesmo alguns namoricos que o tempo acabou por matar e até um namoro mais sério de que resultou um casamento feliz que ainda hoje perdura e perdurará.
Lembro-me que mantive correspondência, com uma moça do Porto, até ao final da comissão.
Nunca lhe pedi uma foto e não sei se alguma vez lhe enviei a minha (penso que não). Fomos, durante muito tempo, bons amigos e sobre tudo o que dissemos um ao outro fomos sinceros. Contava-lhe as minhas alegrias e tristezas, e ela a mim, e foi para mim um grande apoio para suportar a distância e a saudade. Só havia entre nós aquele pequeno segredo que eu nunca quis revelar embora muitas vezes me sentisse tentado a fazê-lo. Não namoramos, nem perto disso, éramos apenas bons amigos. (Apenas é uma palavra pobre para designar uma boa amizade.)
Quando já muito perto do fim da comissão revelei o meu segredo (a minha verdadeira identidade) ela teve uma enorme decepção que eu compreendi e da qual, quando me ocorre ao pensamento, ainda hoje me penitencio. Embora o segredo não tenha sido um crime de pena maior a verdade é que entre dois amigos tinha o valor duma traição. E ela não a merecia.
Foi uma verdadeira e grande amiga. Sem revelar qualquer dado a seu respeito, por razões óbvias, presto-lhe a minha homenagem e espero que tenha sido (e seja) muito feliz na sua vida.
O nome de Milton Sá deste blog é de certa forma um tributo a essa amizade.

Milton Sá

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